Uma entrevista com o amigo Arievaldo Viana, um grande Chargista Cearense, que fez varias ilustrações para quase todos os Sindicatos do estado e ainda foi premiado pelos seus trabalhos. Essa entrevista foi feita durante uma conversa numa rede social que começou no dia 23 de maio de 2013.
O motivo da entrevista é justamente para levar a historia dele e outros para a 2ª Jornada Internacional de Quadrinhos, que vai ser sediado na USP, um dos temas é sobre "sindicalismo em quadrinhos", na categoria quadrinhos e sociedade. A historia é tão maravilhosa que acabei postando aqui, um grande artista que também é cordelista (não sei se é correto falar assim) que tem que ser lembrado e é conhecido lá fora.
E durante a entrevista, ele mostrou trabalhos antigos de uma publicação que nem foi lançado ainda, mais não vou falar muito e lê essa entrevista bacana e fotos cedidas para publicação do artigo, eu agradeço pela ajuda, agora vamos seguindo a entrevista desse grande artista:
1 - Conte um pouco de
sua vida, junto com ela a ligação do desenhos e como conheceu a
história em quadrinhos.
ARIEVALDO – Nasci no
Sertão Central e me criei numa fazenda a luz de lamparina. O único
meio de entretenimento era o rádio e os folhetos de cordel, mas eu
gostava de desenhar desde os três anos de idade, quando me deram a
primeira caixa de lápis de cor. Por falta de outras referencias, eu
desenhava coisas do cotidiano...bichos, objetos ou tentava reproduzir
gravuras dos poucos livros a que tinha acesso. Somente aos dez anos
vim para a cidade (Maracanaú – Maranguape – Fortaleza) e travei
contato pela primeira vez com o desenho animado e a revista em
quadrinhos. Foi uma descoberta e tanto... Um dos trabalhos mais
marcantes dessa época é a revista OS TRAPALHÕES, que era desenhada
por vários cartunistas brasileiros sob o comando de Ely Barbosa.
Cada um tinha seu próprio estilo, não havia aquela padronagem
exigida pelos quadrinhos americanos, além de tratar de temas bem
brasileiros. Gostava também de Jeronimo – o herói do sertão, que
voltou a ‘galopar’ em 1979, desenhado pelo Edmundo Rodrigues, um
cartunista paraense que muito me influenciou. Meu primeiro
personagem foi um sertanejo chamado Nonato Lamparina, um cangaceiro
fora de época, situado nas décadas de 70/80, às voltas com a seca,
bolsões de miséria, governos corruptos, fim da ditadura militar
etc. É claro que eu ainda não tinha muita consciência política,
então recebia orientação de um pessoal de esquerda que criou um
jornal em Canindé, em 1982. Foi nesse jornalzinho que eu publiquei
meus primeiros trabalhos.
2 - Como tudo começou
a carreira de chargista no movimento sindical?
ARIEVALDO – Como
disse anteriormente, passei minha adolescência em Canindé e
colaborei cm diversas publicações. Cheguei a fundar um fanzine
chamado TRAMELA, que circulava mensalmente e criamos um Salão de
Humor Nacional que repercutiu em todo o país. Dessa turma de
cartunista apenas eu e o Klévisson (meu irmão) continuamos a
desenhar profissionalmente. Mas havia uma turma talentosa: Nildo e
Neuzo Bento, Hagamenon, dentre outros. Depois surgiram Jardel,
Fabiano, Lourival, todos em Canindé, na esteira desse movimento. Em
1992 mudei-me para Fortaleza e passei a colaborar ativamente com as
publicações do movimento sindical, a convite do jornalista Tarcísio
Matos. Comecei no Sindipetro-CE, depois SINTAF, SENECE, SINDSAÚDE...
tive uma rápida passagem pelo Sindicato dos Bancários e fiz também
muita charge para os Comerciários. Tenho tudo isso reunido num livro
ainda inédito: 20 anos da história do movimento sindical cearense
pela ótica de um chargista. Fiz uma triagem em meio a mais de 500
charges e extraí as cem que considero mais representativas. O
período em que fui mais produtivo foi durante o (des) Governo FHC.
Ali era prato cheio para qualquer chargista. Publiquei muita coisa
numa revista chamada PÉROLA NEGRA, que era editada pelo Sindicato
dos Petroleiros.
3 - Quais foram os
principais sindicatos que você trabalhou e seus trabalhos favoritos?
ARIEVALDO – Dos
sindicatos eu já falei, na resposta acima. Gosto muito de uma série
de tiras chamada PAPANGU & MOFOFÓ, uma bodega ali pras bandas do
Mucuripe, imediações da LUBNOR, onde tudo acontecia.
Tem também um
trabalho muito legal que fiz no SINTAF, umas tiras de um personagem
chamado FAZENDINO, espécie de mascote da entidade, que era um bode.
É que antigamente os servidores estaduais eram chamados de BARNABÉ.
Então fiz o bode mas não botei esse nome, porque seria muito óbvio.
Tem umas charges que fiz sobre privatização que são históricas.
4 - Fale de alguns dos
personagens criados por você e do contexto social que ele era ligado
ao público do movimento sindical que acompanhava ou era retratado.
ARIEVALDO – No
Sindipetro existia o PINGA-FOGO. Quando cheguei lá esse personagem
já existia, mas não tinha uma personalidade definida. Era um
bonequinho com a cabeça de chama, tipo tocha. Como estava muito
vinculado a determinada diretoria do sindicato, foi abolido. Depois
dele, vieram a dupla PAPANGU & MOFOFÓ que era um sarro, porque
era um peão alienado e um bodegueiro politizado. O choque entre
ambos sempre resultava em boas tiradas.
5 - Além da charge
sindical, você fez outras publicações ligada a quadrinhos,
publicações de jornais, revistas etc?
ARIEVALDO – Colaborei
por dois anos 1983 a 1985 no caderno DOMINGO, do Jornal O POVO, com
tirinhas do Nonato Lamparina e do Aparício Bafo-de-cana. Faz tempo
que deixei de desenhar esses personagens. Depois veio o CURUCA, em
parceria com o Klévisson, que é um menino véi cearense esgalamido,
capaz de comer até rato. Numa tira, ele deitado quando a mãe dele
diz: - Cuidado, Curuca, caiu um rato na sua rede!!! E ele responde: -
Caiu na rede, é peixe! Curuca surgiu antes do FOME ZERO e do BOLSA
FAMÍLIA. kkkkkk
6 - Você continua
trabalhando nesse movimento sindical? Quais os motivos?
ARIEVALDO – Foi uma
questão opcional. Eu tive convite para trabalhar em meios de
comunicação oficiais, mas sempre preferi a imprensa alternativa,
por ter mais liberdade de expressão. Não gosto de ter a minha
criatividade policiada. Quando a diretoria de determinado sindicato
começa a dar palpite demais no meu trabalho eu simplesmente para de
fazer as charges. Ou então, por questão de sobrevivência (tenho 4
cumedôzim de rapadura) eu ‘amarro o burro na orelha do dono’.
Faço do jeito que o fregues pede e nem assino a peça.
7 - A importância da
charge ou propriamente dito o, a histórias em quadrinhos para essa
sociedade que faz parte desse movimento sindical?
ARIEVALDO – Muito
grande. Um boletim com charge ou quadrinho é 100 vezes mais
atrativo. Mesmo nesse período de internet, de boletins virtuais, a
charge ainda é um barato. Perdi muita coisa, consegui armazenar
apenas um terço do que produzi ao longo dos últimos 25 anos, mas,
mesmo assim, tenho mais de 500 trabalhos entre charge, quadrinho e
cartum.
8 - Conte um pouco da
história de criar o livro "Traço Operário"? Ele foi
lançado?
ARIEVALDO – O ‘TRAÇO
OPERÁRIO’ continua inédito por falta de editor. Os sindicatos é
que deveriam bancar esta publicação, pois afinal de contas, conta a
sua história. Ainda não tive tempo de cair em campo para ‘vender’
essa ideia, porque desenvolvo outras atividades.
9 - E fora os
quadrinhos, faz outra atividade?
ARIEVALDO – Trabalhei
10 anos em agência de propaganda, antes e depois do computador.
Passei da prancheta para o Corel Draw versão 2.0! O que a gente
levava dois dias para fazer na prancheta, fazia em duas horas no
computador, depois do scanner. Mas nunca abri mão da prancheta.
Todos os meus desenhos são feitos antes com nanquim e só depois é
que são vetorizados e coloridos no computador. Escrevo literatura de
cordel desde menino e tenho cerca de 30 livros publicados por várias
editoras, a maioria em cordel. Mas também atuo como prosador.
10 - E o que você sabe
um pouco sobre a historia do movimento sindical cearense?
ARIEVALDO – Tenho
acompanhado de perto, bem de perto, os últimos 20 anos do
sindicalismo cearense. E sei bastante como foi a luta nos anos de
chumbo da Ditadura Militar. Gosto de conversar com os mais velhos, os
dirigentes aposentados que enfrentaram os milicos. Tem muita história
interessante.
11 - Você conhece
outros chargistas sindicais que fizeram parte do movimento sindical
cearense?
ARIEVALDO – Sim. Tem
o Zhelio, a Meg (que não sei por onde anda), o Cosmo e o Damião,
dos Bancários, o Klévisson, que ainda hoje faz charges para o
movimento sindical... Não sei se o Guabiras e Válber também
desenharam na imprensa sindical, mas tenho a impressão que sim.
12 - E suas influências
de desenho humorístico ou desenho mesmo, de modo geral.
ARIEVALDO – Como
disse anteriormente, o ponto de partida foram os quadrinhos dos
TRAPALHÕES e a revista do JERONIMO, além das charges do Sinfronio,
no jornal O POVO. Pesquisei muito J. Carlos, Belmonte, K. Lixto, Luiz
Sá, Mendez e outros desenhistas da velha guarda. Depois passei a me
ligar em Laerte, Angeli, Bira, irmãos Caruso, Biratan, J. Bosco,
etc. Passei uma fase muito ligado em Asterix, o Gaulês e cheguei
mesmo a participar de um Salão de Humor na Bélgica, onde tive um
trabalho premiado e publicado no catálogo da exposição (Os dois
únicos brasileiros além de mim eram o Erico Junqueira, do Maranhão
e o Santiago, de Porto Alegre). Hoje eu gosto muito do Crumb, Milo
Manara e no Brasil, do Jô Oliveira, meu ilustrador favorito e
parceiro em vários trabalhos. Recentemente estive com Santiago, Jô
Oliveira e Edgar Vasques, no RS. Foi um encontro bacana, de muitas
relembranças.
para conhecer mais o trabalho desse grande artista, acesse o link do blog e facebook:
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